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segunda-feira, 4 de abril de 2016
O Cientista No Imaginário Popular
O Cientista No
Imaginário Popular
No desenho ‘O laboratório de Dexter’,
o personagem principal é um menino gênio que tem um imenso laboratório secreto
conectado a seu quarto. A figura do cientista é frequentemente associada à genialidade
no imaginário popular.
Basta uma busca rápida na internet
para perceber o imaginário da sociedade sobre a figura do cientista e a
atividade científica. De maneira geral e muito ampla, o cientista é retratado
como louco, desleixado, excêntrico e genial. A ciência, por extrapolação, também
é apresentada como exótica, difícil, coisa para poucos – aqueles poucos,
loucos, desleixados, excêntricos e geniais que se dispõem a trabalhar com temas
por demais complexos.
Exploradas pela mídia e muito
presentes em nossa sociedade, essas imagens e concepções inadequadas do
cientista e da própria ciência têm se transformado gradativamente em mitos. E,
como todo mito, passaram a induzir o comportamento e a inibir o questionamento
e o livre pensar, inclusive dos professores de ciências.
Essas concepções inadequadas do
cientista e da própria ciência têm se transformado gradativamente em mitos e
passado a inibir o questionamento e o livre pensar, inclusive dos professores
de ciências
Pesquisas em ensino de ciências
revelam a presença de entendimentos errôneos da atividade científica em sala de
aula. Além disso, alertam para a necessidade de o professor estar atento a tais
percepções equivocadas, de modo a conduzir os alunos a pensar sobre o assunto e
a desenvolver junto com eles um trabalho específico para a sua superação.
Exemplo dos efeitos negativos dessa
distância entre realidade e imaginário popular é o fato, não raro, de encontrar
muitos professores, nas séries iniciais do ensino, que apresentam grande
dificuldade ou se consideram incapazes para ensinar ciências.
Quais as alegações e justificativas
para isso? Justamente a ideia de que falar sobre ciência é difícil,
principalmente para quem não tem formação específica na área. Ou, ainda, que
para ensinar ciências é preciso dominar conceitos e conteúdos complexos.
Um modo de pensar e agir
É fato que ministrar disciplinas
científicas requer que o professor esteja bem informado e que domine os
conceitos sobre os quais está trabalhando. Quanto mais, melhor. No entanto,
mais importante ainda é que o professor tenha em mente uma concepção correta do
que é a ciência e de como ela é produzida.
É essencial, por exemplo, que se
aceite como premissa básica que a ciência é, antes de um corpo de conhecimento
enciclopédico que a humanidade vem acumulando ao longo dos séculos, o modo de
pensar e agir sobre o mundo que gerou esse conjunto de conhecimentos e que, com
base nessa proposição, se definam as prioridades em relação ao ensino que se
deseja promover.
É preciso se convencer de que, de
certa forma, todos podemos fazer ciência. Não necessariamente o faremos da
mesma forma, com o mesmo grau de dedicação e especialização. Mas o estudo e a
investigação de um determinado tema, seguindo uma dada metodologia – que requer
questionamento, formulação de hipóteses, observação, experimentação e
interpretação de resultados –, podem ser feitos a princípio por qualquer um de
nós. Para ensinar ciências, é preciso reconhecer que essa forma de pensamento
ou de construção de conhecimento não é restrita a poucos, nem requer
genialidade, excentricidade ou habilidades não convencionais.
Um professor de ciências dará passos
muito importantes em direção a se sentir capaz de ensinar e de auxiliar seus
alunos a ampliar seu conhecimento se aceitar essa asserção – a visão da ciência
como o exercício ou a prática de um conjunto poderoso de habilidades humanas,
compartilhadas por todos. Mais significativa ainda será sua contribuição se
conseguir compartilhar essa perspectiva com seus alunos; se conseguir
desmitificar as ideias preconcebidas que se tem do cientista e da ciência.
É muito raro isso ser considerado um
conteúdo importante em sala de aula. Mas é uma abordagem fundamental!
Como fazer?
Uma dica é introduzir o tema para
discussão com os alunos, provocando questionamentos e permitindo que eles
reflitam sobre a atividade científica, sobre o que motiva o cientista, sobre o
que ele faz, de modo que possam reconhecer características ou habilidades
humanas nesses personagens que, em princípio, todos possuímos. Assim, os
estudantes criarão uma consciência crítica sobre o assunto e saberão afastar as
imagens estereotipadas, repetidamente veiculadas pela mídia.
Vale mais a pena apresentá-los como
semelhantes, valendo-se disso para estimular os alunos a também pensar e agir
no mundo de maneira objetiva e científica
Pense por um instante: quantas vezes
você foi apresentado a imagens confiáveis e não estereotipadas de Albert
Einstein ou Charles Darwin? Provavelmente, muito poucas. E, no entanto, eles,
assim como outros cientistas que produziram esse inestimável conhecimento que
admiramos e buscamos incentivar, compartilhavam conosco habilidades cognitivas
que, desenvolvidas, os levaram a ser reconhecidos em suas áreas de atuação.
Ou seja, diferentemente de pensá-los
como gênios, excêntricos ou tresloucados, do ponto de vista do ensino, vale
mais a pena concebê-los e apresentá-los como semelhantes, valendo-se dessas
semelhanças para estimular os alunos a também pensar e agir no mundo de maneira
objetiva e científica.
A imagem de alguns cientistas quando
crianças é um bom começo para auxiliar na revisão desses conceitos. Como nós,
eles tiveram infância, problemas, desejos, desafios e alegrias. Não há nada de
sobre-humano, loucura, desleixo ou excentricidade em se produzir conhecimento.
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Marcadores:Artigos & Curiosidades
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